Atrasada para o meu destino duas horas, entro no comboio e vejo José.
José com a sua estatura baixa, encurvada, quase calvo, de pasta na mão e olhar enlouqucido. Mas era uma loucura invisível aos olhos dos lúcidos. Ali só eu compreendi.
Compreendi o José que ia para o trabalho e quando lá chega todos param de falar e olham para ele com condescendência.
Estoicamente prossegue o seu caminho para a sala.Debita um chorrilho de palavras que deixara de compreender perante o olhar lúcido, inocente e aborrecido dos seus alunos.
Toca a campainha a anunciar um dia terminado.
Apanha o comboio de regresso e chega ao sítio que deixara de ser a sua casa há três semanas. Roda a chave, abre a porta, entra, dirige-se à casa de banho, liga o chuveiro, despe-se, toma um duche, veste-se e maquinalmente dirige-se ao Quarto Cor-De-Rosa. Deita-se na Cama Cor-De-Rosa e chora até adormecer. Amanhã é mais um dia.
Um dia a minha bisavó disse que quem perde um filho só não enlouquece porque Deus não deixa...
Sunday, May 28, 2006
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